Agito-me.
Qual barco ondulando nas águas espelhadas de um rio manso...
Qual passado silencioso e mordaz que teima ser presente adiado.
Contemplo o Futuro em ancestrais sonhos sonhados.
Desenho no vento as gotas de chuva que os meus olhos calam... São lágrima... São lágrimas.
E na brisa que me beija o rosto em tantas madrugadas de insónia,
recordo o calor que hoje é frieza de seda entranhada na pele que quero quente.
Agito-me como folha seca rodopiando ao vento fustigante de Outono.
O medo atraiçoa-me e pensar no futuro traz o azedume mordaz de uma verdade que o presente mascara.
Porque me agito assim?
Quase me perco nas palavras... Perco o tempo e o sono,
Perco a hora e a vontade que traduzo no nada... Sinto-me mal assim.
Eu sei que lá fora o céu está estrelado... assim fosse sempre.
Agito-me num grito sufocado, mas lá fora a madrugada avança enquanto aqui as horas passam e eu contemplo o Futuro imaginado em barco ancorado no meio do rio, ondulante e ondulando ao sabor das águas inexplicavelmente paradas.
Tenho sede de ti...
Fome de ti...
Passado dorido em Presente calado na esperança do Futuro certo.
Não sei o que me move! Nem sei já se o pouco que avanço é movimento ou se é simplesmente sonho...
Agito-me num calendário de numeros e palavras do qual nem sei se na verdade o é, ou se apenas são fragmentos irreparáveis.


